Por Sonaira D’ávila
O início
Quando começamos o nosso curso, eram oficinas avulsas eu ainda trabalhava na Globo. Junto com a Sonali Becker, eu lecionava uma oficina na Universidade Cândido Mendes de Ipanema, e nessa oficina tinha um menino de 15 anos, que chegava sempre com motorista e dois amigos. Ele usava uma bota tipo cowboy e sempre chegava atrasado, mas com um jeitinho muito participar a ele, a gente aceitava os atrasos.
Era quase impossível de contê-lo: sempre alegre e muito falante, roubava as cenas de todo mundo. Quase nunca decorava os textos, mas era muito carismático e com muita personalidade. Um dos seus amigos que chegava junto era muito aplicado, sério, disciplinado, quase não falava. O que fazia deste grupinho, um grupo muito marcante, pois um "levantava a bola e o outro cortava".
Sempre que chegava de bota na sala, pedíamos que fosse fazer um exercício de corpo e era um desespero para tirar a bota. Usava um saco plástico, em volta dos pés, tipo um saco de supermercado, era a única forma da bota entrar. O menino da bota se chama André Marques, hoje conhecido por todos. E seu amigo? Thiago Fragoso.
O terceiro integrante do grupo ficava ofuscado pelas brincadeiras e simpatia do André. Devagarzinho, e com persistência, foi se colocando ao longo dos anos, e hoje, é um dos principais professores da Escola: Carlos Marapod. Seu primeiro trabalho de televisão foi no programa da Xuxa, como ator.
Continuando
Alguns meses depois, começamos uma oficina na Socila do Humaitá, com uma turma de modelos da Ford, que a própria agencia diagnosticou algumas limitações em relação aos alunos. Eram bastante interessantes e interessados, mas nunca pegavam comerciais e não sabiam o por quê. Era uma turma de apenas 10 pessoas.
Tinha um menino lindo, mas que quase não falava, e que olhava muito pro chão. Muito alto, e com vergonha do tamanho, não sabia se assumir na sua altura. Várias vezes ele contava que, quando pegava o ônibus para chegar até o curso, ele tocava sentado o sinal do ônibus para saltar, já que tinha vergonha de ficar em pé. E o engraçado: ele se sentia muito bem dentro d´água! Tinha sido, se não me engano, campeão sul-americano de natação. Vinha da Tijuca, sempre sozinho.
O rapaz persistiu e resolveu lidar com a sua timidez; ficou uns 4 (quatro) anos, desistiu no meio, foi trabalhar numa loja de roupas, num shopping, e resolveu que ia fazer faculdade de Administração, seguindo a carreira do pai. Mas surgiu um teste para pó o seriado da TV Globo Malhação, para um elenco de apoio, pra interpretar um personagem que era um professor de natação. Eu me lembro que eu fui até o shopping, convencê-lo que valeria a pena tentar. O que ele tinha a perder? O nome do personagem era Lucas, na terceira série, talvez da Malhação. O ator: Thiago Lacerda.
Uma outra moça também vinha de Niterói. Essa era mais falante, mais comunicativa. Mas buscava alguma coisa a mais, além de ser modelo.
A moça, bonita como todas as outras que são modelos, preocupada com alguma coisa a mais além da aparência, se preocupava em falar e se comunicar melhor. Foi quando surgiu um teste, para uma novela na Bandeirantes chamada "Perdidos de Amor" e que precisava de uma secretária bonita para elenco de apoio. Algumas modelos fizeram teste e duas disputaram o personagem na final, uma modelo internacional, chamada, Cris Muniz e modelo que se tornou atriz a partir daí: Ana bárbara Xavier, a Babi.
Na novela seguinte, "O campeão", o diretor me pediu que conseguisse, para a abertura da novela, um rapaz que jogasse futebol muito bem. Fiz uma pesquisa com alguns times de futebol e acabamos escolhendo um rapaz que, por acaso, era primo da produtora. Muito bonitinho, loirinho e muito simpático, estava se afastando do futebol por causa de uma lesão no joelho. Me lembro do dia em que fomos para a estréia da novela, na churrascaria Cruzeiro do Sul, em Botafogo, e que o mesmo rapaz, saindo pela porta, gritou bem alto: "Ainda vou ser seu aluno, vou ser ator!". Adivinha que era? O nosso galã, Mário Frias.
Alguns anos mais tarde quando a Escola passou a existir, com endereço, nome e uma marca, um menino baixinho, mas com um olho azul deslumbrante, veio fazer aula, trazido pela mãe (diga-se de passagem: um a cara do outro!). Me lembro até hoje dele sentado na secretaria, acompanhado da mãe, fazendo sua matrícula.
Começou a fazer um trabalho com a gente, seguindo o curso normal. Vida vai, vida vem, apareceu um teste para "Chiquititas". Gravamos uma fita VHS com alguns alunos, e enviamos para São Paulo, para o Fernando Rancoletta. Apresentamos para ele o mesmo empresário do Thiago Lacerda, e lá se foi ele para a Argentina, menor de idade e tudo! Me lembro ainda dos dias em que ele me ligava à cobrar de lá, pra chorar que estava com saudades e que não aguentava mais ficar em outro país, e que não sabia o que fazer com a cena do dia seguinte, por exemplo.
Na Argentina, eles trabalham com um formato diferente do nosso, aqui no Brasil. "Fessora!", gritava ele! E os anos se passaram... E eu ouço o mesmo "Fessora!", sempre que encontro com ele, Bruno Gagliasso.
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